domingo, 21 de dezembro de 2008

Conto de Natal

Alguns anos atrás, passeando pelas ruas da cidade do Porto eu vi uma loja de cartões postais. Isto mesmo, a loja só vendia cartões postais.
Eles estavam pendurados em barbantes como móbiles, em vitrines como jóias, em displays como vidros de perfume.
À porta estava um senhor de uns 80 anos de blazer de tweed e gravata, lenço de seda no bolso e mesmo seus sapatos eram elegantes, eu reparei.
Como que alguém na era da Internet sobrevivia da venda de cartões postais?
Entrei na loja por curiosidade. A loja era decadente, empoeirada, quase vazia. Comprei alguns cartões dos anos 50, sei lá, por pena, por carinho a um passado que não voltaria jamais. Aquele senhor elegante não sobrevivia, ele definhava, concluí.
A imagem do homem à frente de sua loja ultrapassada não saiu mais de minha mente. O homem ficou preso ao passado. Ficou preso a um mundo que não existe mais. Não seguiu em frente. Talvez pela idade... Quem sabe a razão?
Já estive presa à minha própria loja de cartões postais por algum tempo.
Ficava lá na porta da minha loja imaginária esperando que alguém entrasse, que alguma coisa acontecesse, que tudo mudasse por mágica.
Tive que criar forças e jogar fora todos os antigos cartões, um a um. Tive que doar todos os balcões, limpar todas as vitrines, lavar com água, sabão e esfregão. Não uma só vez. Várias vezes. Deu certo.
E você tem alguma loja de cartões postais aí dentro de você?
Venda. Doe. Rasgue tudo e jogue fora em 2009.
Se só gosta de escutar Michel Bublé, passe a amar a Amy Winehouse,
Se só anda em linha reta, experimente uma espiral,
Se tiver horror a andar descalça na terra, reveja seus dogmas,
Se tem medo de escargot, experimente uma ostra para começar,
Se costuma abraçar pouco, vire um beijoqueiro,
Se só vai para a esquerda, tente a direita,
Se só passa o Reveillon na praia entre amigos, tente com seus avós.
Se só faz compras no Shopping, vá passear na 25 de Março, cara!
Temos que ser nosso próprio conto de Natal!!!



Adoro fazer esta receita depois das festas de final de ano, é leve e usa um dos ingredientes que prefiro: figos secos.
Encontrei-a no magnífico livro que me foi autografado por Giuliano Hazan, com quem já tive aulas. Ele e sua mãe Marcella transformaram um dia de aula de culinária numa festa de simpatia, profissionalismo e deliciosos sabores.
Com a licença dos deuses da gastronomia acrescentei açafrão, amêndoas em lascas e hortelã picada.





Fettuccine com Figos Secos, açafrão e amêndoas em lascas


4 porções



Ingredientes :

500 g de fettuccine
200 g de figos secos
60 g de manteiga ( 1 colher e ½ )
1 colher de sopa de cebola ralada
15 ml conhaque ( 1 colher de sopa )
500 ml de creme de leite fresco
Açafrão
50 g de amêndoas laminadas douradas na manteiga
sal e pimenta do reino ralada na hora
hortelã picada

Preparo:

1 - Coloque os figos de molho em água morna e reserve por 30 minutos. Não jogue esta água fora!
2 - Coloque a água para cozimento da massa para ferver.
3 - Escorra os figos e pique-os em tiras de 3-6 mm de tamanho.
4 - Derreta a manteiga em uma panela grande em fogo alto. Adicione a cebola e refogue até ficar dourada. Adicione os figos e cozinhe por 1 – 2 minutos.
5 - Junte o conhaque e deixe o álcool evaporar (isso levará cerca de 1 minuto)
6 - Adicione cerca de 4 colheres de sopa da água dos figos e cozinhe até quase evaporar.
7 - Coloque a massa na água fervente temperada com sal.
8 - Adicione o creme de leite aos figos. Tempere com sal e pimenta e cozinhe, mexendo sempre, até o creme ter reduzido pela metade. Retire do fogo.
9 - Acrescente o açafrão, as amêndoas e a hortelã picada.
10 - Quando a massa estiver cozida “al dente”, escorra-a e incorpore-a ao molho.
11 – Sirva imediatamente!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Que restaurante!

Chegamos em São Paulo ao meio dia do último domingo. Nos últimos quilômetros da estrada a escolha do restaurante para o almoço foi o assunto em questão.
Almoçar fora em São Paulo num domingo envolve uma estratégia de guerra, não? Analisa-se qual tem a menor fila, o melhor estacionamento, a melhor comida, claro.
Ligamos para meu filho e ele sugeriu o Due Cuochi.
Sei que para muitas pessoas este restaurante não é novidade. Sei também que ele já é sucesso faz tempo. Mas nunca tínhamos tido a oportunidade de experimentá-lo.
Confiamos no bom gosto infalível de meu filho e lá fomos nós.
Chegamos cedo, esperamos uns bons 45 minutos.
O serviço é perfeito e invisível. O ambiente está um pouco caído, mas sei que acabaram de abrir lá no Shopping Cidade Jardim uma casa nova em folha. Enfim, descuidaram um pouco da casa original.
Mas a comida vale cada minuto de espera. Pedi um coelho assado com nhoque de azeitonas pretas. Perfeito! Todos os outros pratos foram elegantemente apresentados no ponto certo. Fazia um bom tempo que não ia a um local em que todos à mesa estivessem satisfeitos com suas escolhas. Não perca o Due Cuochi! Fique na fila, ponto.
Rua Manoel Guedes, 93, Itaim.