quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Superação

Veja o vídeo:



Ao ver este filme fiquei me perguntando: O que me difere destas pessoas?
Treino? Concentração? Seriam elas especiais? Ora, elas não têm rodas nos pés ou asas nas costas. Não, não, não! São simples mortais, descendentes dos mesmos macacos de que toda a humanidade descende e sempre descenderá.
Bem, então, a palavra que me vem à mente é SUPERAÇÃO.
De acordo com o Aurélio superar é “passar além de; exceder; ultrapassar.”
Estas pessoas passaram além de seus limites, excederam suas próprias expectativas, ultrapassaram o medo do desconhecido e à cima de tudo deram adeus àquele sentimento horrível:
“ah, mas isto é muito difícil! Não consigo, não!”.
Revi o filme e concluí:
Quem sou eu, para não enfrentar as situações que a vida me impõe com coragem, determinação e perseverança?
Não pretendo aprender a andar de skate ou pular de um trampolim a zilhões de metros do chão, mas com estas imagens em mente imagino que posso dar aos problemas, desilusões e tristezas um tratamento semelhante:
Pularei, portanto, de ponta em cachoeiras quando as dificuldades transbordarem, procurarei as mais altas rampas para de lá jogar a melancolia, terei a mesma coragem daquele que se sentou na beirada de um prédio, nadarei milhas e milhas contra a correnteza do desencanto, e quando alguma situação me jogar no chão: vou levantar, sacudir a poeira e dar um Duplo Twist Carpado à La Daiane dos Santos.
SUPERAÇÃO. Esta é minha palavra para 2011. E a sua?

“E se quiser saber pra onde eu vou?
Pra onde tenha sol. É pra lá que eu vou!”



Ouça a música:



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pão recheado de carne moída

Quando chegavam as minhas férias escolares eu esperava com ansiedade o convite de minha avó para ir para Araraquara visitar os parentes.
O preparo para a viagem começava na véspera: Comprar os pães e preparar a carne moída. Fazer o bolo e deixar a cesta arrumada. Ela preparava mais algumas coisas, como doces de colher, para levar de presente. Todos iam dormir cedo, pois a viagem no dia seguinte seria longa.
Ela levanta-se às cinco horas para preparar o café e os pães recheados. Pegava os pãezinhos, lhes retirava os miolos e recheava-os com a carne moída morna. E depois os fritava empanados em farinha de rosca. Cada pãozinho era embrulhado em um guardanapo de pano e colocado na cesta como filhotinhos recém nascidos. E ai de quem pegasse aquela cesta de qualquer jeito!
Enquanto isto, minha tia punha a mesa do café e me chamava milhares de vezes: “Vamos, levanta. Vamos sair com sol forte deste jeito!”
Saíamos cedo para evitar o calor, pois não havia ar condicionado nos carros, lembram-se disto?
Francisco, o motorista, não tinha permissão de passar dos 100 km por hora e ela vigiava constantemente suas tentativas de pisar um pouquinho mais no acelerador. Franciiiisco!!! Portanto, a viagem era longa e recheada de histórias destes parentes, causos e dramas familiares, um pouco fortes para meus ouvidos de criança. Mas qual criança não gosta de uma boa história escandalosa?
Minha tia que cochilava o tempo todo só respondia “ééé” aos seus “não é mesmo?”.
Ao chegarmos perto de Porto Ferreira, ela já começava a procurar a árvore para o lanche. Parávamos o carro sob a árvore mais frondosa e aí comíamos os pães recheados e o bolo com Guaraná.
Na casa destes parentes a cozinha era no quintal e eles nos recebiam com bolinhos de arroz, pasteis fantásticos e muitos abraços apertados. Estas foram as primeiras cozinhas gourmet que vi na vida. Mas de gourmet não tinham nada. Tinham mesmo é fogão a lenha, mesa e cadeiras velhas e despareadas que eram colocadas na sombra da goiabeira para almoçarmos. A comida era quase sempre um frango ensopado com polenta e goiabada de sobremesa.
Após o almoço, mais um pouco de conversa e já era hora do café, bolo e rosca. Logo depois, voltávamos para o carro e para São Paulo.
Ainda hoje, quando passo por aquelas árvores bem pertinho de Porto Ferreira, posso imaginar o Galaxi verde musgo parado por lá e fico esperando, em vão, vê-la arrumando o lanche sobre a toalha para nós.




Pão recheado de carne moída
6 pessoas

Ingredientes:


6 pães franceses frescos
500g de patinho moído
2 colheres de sopa de cebola ralada
2 dentes de alho picados
200g de azeitonas verdes picadas
1 tomate sem pele e sementes picado
Salsinha picada a gosto
½ copo de leite frio
1 colher de sopa de amido de milho
Azeite
4 ovos
Farinha de rosca - preferencialmente feita em casa
Óleo vegetal para fritura

Preparo:


Em uma panela refogue a cebola e o alho no azeite. Adicione a carne moída aos poucos e deixe que doure. Acrescente ½ copo de água e deixe que cozinhe até que a carne fique macia. Adicione tomate picado, azeitonas, salsinha. Em um copo dissolva o amido no leite frio e adicione à carne. Mexa bem até engrossar. Reserve e deixe esfriar um pouco.
Retire uma tampa dos pães e com a mão retire os miolos. Reserve as tampas. Recheie os pães com a carne morna e tampe com as tampinhas de pão, prendendo-as com palitos de dente.
Num prato fundo bata os ovos e em outro coloque a farinha de rosca. Passe cada pão primeiramente pelos ovos e depois pela farinha. Frite-os em óleo quente . Retire os palitos e sirva.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Capri

Pegue em suas mãos um punhado de bolinhas de gude azuis.
Aproxime-as de uma lâmpada e abrindo um pouco os dedos deixe que a luz passe por elas. Pronto. Este será o tom de azul semelhante e só semelhante ao tom da água dentro da Grotta Azzurra em Capri. Só consigo me lembrar de outra referência para esta cor azul translúcida: o azul do olho turco.
Ao imaginar esta cor você pode viajar para esta ilha em que as rochas são quase brancas, as ruas são sinuosas e o espírito é de magia. Mesmo lotada de turistas, eu inclusive, a magia esta lá. O perfume do mar sobe pelas encostas, o barulho das ondas que quebram nas rochas pode ser ouvido. É só prestar atenção e se desligar das vitrines famosas, que existem em todos os lugares, e dos turistas russos ou chineses que andam por lá como andam por todos os lugares.
O almoço pode ser no Faraglioni , no Sollievo, tanto faz. O peixe é fresco, o tomate é doce, o vinho escolhido é gelado na medida certa e o serviço é muito gentil.
No final da tarde você pode seguir o perfume de biscoito que se espalha pela cidade, encontrar a Gelateria Buonocore e descobrir que aquele aroma vem das casquinhas crocantes feitas na hora para um gelatto. Ou mesmo comprar um pacote imenso de biscoitos caprilu, pinolate, nocciolati e mandorlati. E comer, comer, comer...
Na Villa de San Michelle há silêncio. Há contemplação. E o azul do mar está lá, forte, de doer nos olhos.
O por do sol é intenso e você termina o dia com a sensação de um sonho azul.









•Faraglioni Ristoranti – Via Caramelle, 75
•Sollievo Ristorante – Via Fuorlovado, 36
•Gelateria Buonocore – Via Vittorio Emanuele, 35

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tomate seco, o injustiçado

Toda a moda vai e vem. Vejam que as ombreiras ameaçam reaparecer em nosso guarda-roupa. Credo!
Na culinária não é diferente: foi-se o tempo do strogonof, da picanha, do azeite trufado (alguém ainda agüenta?), do purê de mandioquinha e do tomate seco.
Em minha opinião o único injustiçado da lista aí de cima é o tomate seco.
O sabor adocicado e delicado dele não tem comparação. No entanto, só quando é feito da maneira correta e antiga:
SECOS AO SOL.
Não é difícil nem trabalhoso. Só requer o exercício da paciência. Paciência que as mocinhas tinham ao bordar seu enxoval, que as mucamas tinham ao fazer a goiabada de tacho, que o caiçara tinha ao tecer suas redes de pesca, que o caipira tinha ao moer o milho no pilão.
Exercício que pode ser um antídoto para a correria a que nos abrigamos nos dias de hoje.
PARE! Pesquise no The Weather Channel * se a semana será bastante ensolarada.
Compre tomates orgânicos, de preferência, e deixe que amadureçam bem.
Pique os tomates na metade, tire as sementes, coloque-os cuidadosamente numa assadeira de alumínio, polvilhe-os com uma mistura de açúcar e sal
(1 de sopa de açúcar para 1 de café de sal), coloque-os ao sol logo pela manhã e deixe-os até o entardecer. Guarde-os na geladeira e repita a operação por 3(três) dias. Ao final deste período eles estarão prontos para ser temperados com bastante azeite extra virgem, orégano fresco, alecrim fresco e erva doce . No entanto, nada de chuva! Eles devem secar! Já diz o nome.
Você pode sair e deixá-los sozinhos, não fogem. No meu caso, há que se ficar de olho nos macaquinhos da mata vizinha.
Não pense que é perda de tempo, não. Pois, para poder cuidar de seus tomates você terá, conseqüentemente, tempo para ler um bom livro, para escutar música, para brincar coma as crianças da família, para ficar de
“papo pro ar”. Pois, quando você fecha a porta e deixa a falta de tempo para fora de casa , tudo é possível.


*Para acessar facilmente o The Weather Channel entre em: www.noalvo.com.br

Tomates frescos:

Resultado do 1 dia:

Resultado do 2 dia:

Resultado do 3 dia:

Tomates temperados:

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Hoje é dia de latinha!

Todo o mundo tem seu dia de latinha. Mas veja bem, há latinhas e latinhas.
Naquele dia em que não deu tempo de fazer compras ou a preguiça bateu fundo, é sempre bom ter umas latinhas de boa qualidade na despensa.
Ao ficar em uma destas situações recorro à minha despensa e deixo que ela me surpreenda naquele momento com seus encantos:
Se, por exemplo, eu der de cara com uma latinha de aliche, um vidrinho de azeitonas pretas e um pouco de salsinha, eu irei picar tudo, bem miudinho, misturar, et voilá: terei une Tapenade! Que poderá ser espalhada sobre fatias de pão italiano; que poderá virar capa sobre um filé de peixe; que poderá ser molho para uma salada.
Se acontecer de aparecer uma latinha de atum, de boa qualidade, evidentemente, uma latinha de tomates italianos pelados, um pouco de orégano, noz moscada e parmesão ralado, eu poderei preparar um molho delicioso para massa.
Hoje, minha despensa me presenteou com uma latinha de bacalhau Ramirez* e uma latinha de grão de bico Bonduelle.
Que felicidade! Dourei 2 cebolas em rodelas finas no azeite, misturei ao grão de bico com salsinha picada do tamanho de átomos e juntei tudo.
Ao servir reguei com azeite extra-virgem D.O.P..
Comi com fatias de pão e salada verde. Perfeito!

*No Pão de Açúcar encontro o bacalhau, a lula e o polvo da marca Ramirez.





segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nome corajoso

Ao entrar, logo vi o piso de tábuas largas, as fotos da Toscana emolduradas por grandes passe-partout e molduras discretas e a ausência de elementos de grande impacto cênico. E principalmente vi os pratos com borda amarela e flores, as toalhas e guardanapos bem passados, convidando a uma refeição deliciosa.
Ainda era cedo, e assim o Tre Bicchieri podia ser visto e sentido. Logo mais ele estaria lotado.
Engana- se quem pensa que a proposta de oferecer pratos da culinária da Toscana é fácil. De acordo com Waverley Root: “O preparo de uma refeição na Toscana começa com uma cuidadosa atenção à seleção dos ingredientes, que devem ser de altíssima qualidade. Cozinha-se, então, estes ingredientes com o mínimo de molhos e temperos necessários. É a comida caseira que sabe ser parcimoniosa, saudável e feita com afeto. Que deixa a sofisticação de lado, o que é na verdade, o máximo de sofisticação que se pode alcançar”.
Pedi um coelho à caçadora que deve ter ficado horas na panela, pois se soltava dos ossos só de olhar. A polenta, italiana genuína, estava no ponto e quente! O serviço é paulistano quatrocentão. Em nenhum momento nossas taças ficaram com vinho abaixo da metade.
O nome escolhido é ousado, pois se trata da nota máxima que um vinho pode atingir no guia Italiano Gambero Rosso. Prefiro pensar que alguns meses atrás, tre bicchieri (três copos) estariam sobre uma mesa, enquanto os três sócios, tomando um vinho, decidiam o cardápio, dando risadas e torcendo as mãos de ansiedade, sonhando com a casa que iriam abrir.



Tre Bicchieri
Rua General Mena Barreto, 765 Itaim
Fone : 38854004


The Food of Italy
Waverly Root
Vintage Books – Random House, Inc.


Resolvi fazer a receita do coelho à caçadora com o franguinho nosso de cada dia:


Sobrecoxas de frango à caçadora
com polenta e aspargos grelhados:

4 pessoas


Ingredientes:

Para sobrecoxas:
6 sobrecoxas de frango
Tomates cereja
Farinha de trigo
2 dentes de alho picados
1 ramo de alecrim
3 colheres de sopa de azeitonas pretas fatiadas sem caroço
½ copo de vinho branco

Para polenta:
1 xícara de polenta italiana ou fubá mimoso
1 litro de água
sal

Para aspargos grelhados:
1 maço de aspargos verdes frescos
3 colheres de sopa de azeite

Para crisps de salsinha:
1 maço de salsinha lavado
2 xícaras de óleo de canola

Preparo:

Para sobrecoxas:
Deixe-as em vinha d’alhos na véspera com vinho branco, alho picado, poucas folhas de alecrim, sal, pimenta do reino. No momento do preparo enxugue-as com papel absorvente. Passe-as pela farinha e elimine o excesso. Doure-as, uma a uma, em pouco óleo. Coloque-as numa panela e adicione a vinha d’alhos peneirada. Vá adicionando um pouco de água, se necessário. Deixe cozinhando até que a carne esteja tenra.
No momento de servir, adicione os tomates cereja cortados na metade e as fatias de azeitonas pretas e cozinhe por somente 1 minutinho.


Para aspargos:
Limpe-os. Numa grelha bem quente, untada com azeite, coloque os aspargos e deixe-os por alguns momentos. Reserve.

Para polenta:
Numa panela pequena coloque 800 ml de água para ferver. Adicione sal. Em uma vasilha coloque 200 ml de água restantes e a xícara de polenta ou fubá. Misture bem. Vá adicionando esta mistura à água fervente e vá mexendo até encorpar.


Para crisps de salsinha:
Frite em óleo de canola bem quente.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Chocolate Shortcake

Problemas andam habitando e atazanando minha mente como os monstros que moravam embaixo da cama durante minha infância. Não coloque o braço para fora das cobertas, alertava-me a empregada, achando que estava sendo zelosa ao evitar que eu ficasse descoberta nas noites frias do inverno paulistano. Só que minha imaginação era tão fértil e eu era tão medrosa que perdia o sono tomando conta de braços e pernas.


Neste final de semana resolvi fazer um bolo de chocolate “daqueles” para apaziguar qualquer monstro: de dragão a E.T. de 3 cabeças. Usei um chocolate em pó que eu trouxe do Caribe em fevereiro. Perfume forte de cacau, chocolate macho mesmo!


E coloquei um 70% cacau picado da VARHONA. É o Chocolate Shortcake que não leva ovos e portanto não cresce muito, deixando que o sabor do cacau se acentue.


Fiz um coulis de ameixas vermelhas para dar um toque ácido.
Xô monstro! Ou eu volto para aquela praia no Caribe.

Valrhona Chocolat et Lounge
Al Lorena, 1818 São Paulo



Chocolate Shortcake com coulis de ameixas



10 porções

Bolo:
Ingredientes:
3 xícaras de farinha de trigo peneirada
1 xícara de açúcar
6 colheres de sopa de cacau em pó
1 e 1/3 de xícara de manteiga sem sal
1 e 1/3 de xícara de leite
200 gramas de chocolate meio amargo picado
1 colher de chá de fermento em pó

Preparo:
Unte uma forma redonda de 30 cm com manteiga e farinha.
Pré-aqueça o forno em 200°.
Numa vasilha misture farinha e cacau.
Numa batedeira bata a manteiga e o açúcar até ponto de fita.
Misture a farinha e cacau ao creme de manteiga.
Adicione o leite.
Adicione fermento.
Adicione chocolate picado.
Transfira para assadeira.
Asse por 40 minutos

Coulis de ameixa:
Ingredientes:
3 ameixas vermelhas maduras
1 colher de sopa de açúcar
1 colher de sopa de água

Preparo:
Pique as ameixas com casca. Bata todos os ingredientes no liquidificados.
Coe.



domingo, 28 de março de 2010

Épernay, Champagne

Fui trocada por uma portuguesa de quem só conheço a voz. Sem dúvida uma voz bonita, aveludada, porém, com um quê de autoritarismo germânico. Meu posto de co-piloto perdeu o sentido.
Adeus aos mapas, aos “vira aqui, aqui, aqui!”.
Tínhamos ido até Suippes para ver um Museu dedicado à Primeira Grande Guerra.
No caminho para Épernay eu não tinha nada para fazer no carro, então, resolvi folhear alguns guias regionais que peguei no Hotel em Reims.
Já era quase hora do almoço e a fome estava chegando. Encontrei uma pequena propaganda de um Hotel em Champillon que prometia restaurante com vista para as vinhas. No cantinho da direita o símbolo dos Relais & Chateaux, sinônimo de coisa boa. Sugeri mudarmos um pouco a rota para experimentarmos o restaurante. Reservei a mesa por telefone e lá fomos nós.
“Recalculando”!
O Hotel fica realmente em um platô e a vista é deslumbrante: vinhas e vilarejos. O dia estava ensolarado e o frio ameno.
O Hotel é lindíssimo e aconchegante. No restaurante o serviço é impecável.
O chefe Philippe Zanchetta traz a culinária tradicional da região da Champagne à atualidade com frescor e charme.
Depois do almoço seguimos o caminho que já havia sido traçado pelo GPS.
Fomos para Épernay para uma visita às caves da Moët & Chandon.
Sem dúvida alguma um dia inesquecível. Vale a pena recalcular!

Royal Champagne
Relais & Chateaux
Bellevue - 51160 – Champillon – Épernay - França