quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Aos meus filhos nos últimos dias de 2009 e para sempre.



Eu costumava reinar sobre meu mundo.
Costumava imaginar que podia tranquilamente controlar tudo e todos de forma
carinhosa e eficiente.
Neste ano ao abrir uma porta, inesperadamente, um poço de areia movediça se apresentou e eu cai. Enquanto estava lá dentro fui percebendo que nada podia, que nada controlava e que tudo aquilo acontecia apesar de mim. A luta foi grande e a aflição imensa. Mas vocês estavam lá jogando cordas e armando roldanas. Por momentos, acalmando-me da estafa que às vezes tomava conta de meu ser. Em outras ocasiões, fazendo-me rir e às vezes decidindo e agindo por mim, com sabedoria inesperada. Finalmente, depois de muito insistir e somente com a ajuda de vocês e de muitos outros, consegui sair. Exausta, exultante e de mãos dadas com aquele que havia atingido o fundo, mas que com coragem sobre humana tinha conseguido impulsionar-se para a superfície e para a vida.
Em outros momentos do ano, apesar de ter sido generosa com alguns, encontrei somente uma porta com o aviso: “Proibido para pessoas estranhas”.
Houve momentos, no entanto, em que fui recebida em varandas viradas para o sol acolhedor.
Conclui que meu mundo é frágil, apoiado em “pilares de sal e pilares de areia.” Reinar sobre ele é o pior modo de seguir em frente.
Portanto, que a humildade seja de agora adiante “meu espelho, minha espada e escudo”, pois mais portas estarão à minha frente. Inúmeras. Não poderei desviar e atalhos de nada servirão.
Para muitos nada do que escrevi aí em cima é novidade. Grande coisa!
Já não era novidade para Sócrates, Epicuro, Nietzsche, Borges e Mario Quintana... E nem mesmo para os rapazes do Coldplay é novidade.
A diferença é que neste ano eu vivi muito do que eles pensaram e escreveram sobre a vida. E isto faz toda a diferença!
Filhos continuem sendo meus “missionários em um campo desconhecido”!
E como Jobim e Vinícius escreveram: Vai, vai, segue cantando em paz...
Beijo

Viva la Vida
Coldplay
Composição: Chris Martin

I used to rule the world
Seas would rise when I gave the word
Now in the morning and I sleep alone
Sweep the streets I used to own
I used to roll the dice
Feel the fear in my enemy's eyes
Listen as the crowd would sing
"Now the old king is dead! Long live the king!"
One minute I held the key
Next the walls were closed on me
And I discovered that my castles stand
Upon pillars of salt and pillars of sand
I hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror, my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can't explain
Once you go there was never
Never an honest word
That was when I ruled the world
It was the wicked and wild wind
Blew down the doors to let me in
Shattered windows and the sound of drums
People couldn't believe what I'd become
Revolutionaries wait
For my head on a silver plate
Just a puppet on a lonely string
Oh who would ever want to be king?
I hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror, my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can't explain
I know Saint Peter won't call my name
Never an honest word
But that was when I ruled the world
Oh, oh, oh, oh, oh
Hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror, my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can't explain
I know Saint Peter won't call my name
Never an honest word
But that was when I ruled the world

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Muitas surpresas em um dia só

De manhã, descendo a pé a Augusta me deparei com uma lojinha toda enfeitada, nova no local, cheia de gente festejando.
Não resisti e coloquei a cabeça para dentro. Fui, imediatamente, recebida pela proprietária Paula que me convidou para entrar de penetra na inauguração da “Wondercakes”. Divinos cupcakes! Massa de bolo de verdade. Coloridos, deliciosos. Fiquei pouco, claro. Mas bastou para eu ver quão deliciosos são.
Sucesso, Paula!
À tarde fui com T. e L. assistir ao filme Julie & Julia. O filme é muito bom, a estória é ótima e saímos de lá quase que correndo, desejosas de uma boa comida francesa.
Depois de passar por dois restaurantes em Pinheiros que visivelmente não nos queria como clientes, fomos ao “Le French Bazar”. À porta estava Karina, uma das sócias, que nos recebeu com carinho e o maitre, inteligente como ele só, nos deu uma taça da Chandon para esperar pela mesa.
Logo percebi que estava num restaurante de gente que sabe o que faz.
Mas faz sem pretensão. Mesas lotadas.
Clientes de todo o tipo: alguns de sandália Havaiana e bermuda.
Outros, bacanas, de carro importado e moça à tiracolo.
Todos recebidos da mesma forma carinhosa. Às vezes, Karina vai até a janela do carro e pesca o cliente. Não deixa escapar ninguém.
O garçon, muito bem treinado, pode nos sugerir um vinho dando as informações corretas sem o jargão dos somelier. Desculpa, aí.
Sentamos em uma mesa na calçada. Havia chovido e a noite estava fresca.
A terrine de fois estava tão francesa quanto deveria ser e o chuney de figo tão saboroso quanto a fruta colhida na hora.
O camarão arrebentava na boca acompanhado pelo leve sabor do capim cidreira.
As sobremesas bem preparadas e apresentadas.
Karina, sucesso!


Wondercakes
Rua Augusta, 2542 loja 1

Le French Bazar
Rua Fradique Coutinho, 179
Fones 30631809/ 27680504

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pitanga


Depois de uma noite de chuva intermitente, o dia amanheceu e o sol resolveu aparecer.
A areia estava bem úmida e fresca. Na praia ainda deserta as únicas marcas eram de galhos que tinham sido trazidos pelo mar e de conchas novas pelo chão. Olhei para trás e vi o rastro longo, solitário de meus passos. Um pouco mais adiante bem perto da água havia um pequeno cavalo marinho já morto e petrificado. Num impulso, peguei-o, antes da onda chegar e molhar meus pés. Não havia barulho nenhum a não ser o som do mar calmo da manhã.
Fui andando e no final da praia havia um caminho por entre árvores e logo na frente uma pitangueira carregada. Pelo chão, inúmeras frutas maduras haviam caído e coloriam a areia banca. As frutas eram saborosas e frescas e de sabor agreste.
Lá no final desta praia havia uma pequena cachoeira do tamanho exato para se sentar e deixar a água cair.
Repeti, durante anos, este mesmo caminho na esperança de encontrar mais algum cavalo marinho. Para que? Já tinha aquele único, especial para mim.
Mandei que fosse banhado em ouro e cada vez que o penduro em meu pescoço o sabor daquelas pitangas volta à minha boca e o frescor daquela cachoeira transforma meu dia.




Para lembrar-me do vermelho vivo das pitangas fiz uma terrine de frutas frescas deliciosa para o verão. Facílima de fazer! Deixe a preguiça de lado e mãos a obra!

Terrine de frutas frescas


8 pessoas


Ingredientes:

1 caixinha de morangos
2 goiabas vermelhas
1 manga
1 maça
2 pêssegos
Mais alguma fruta a sua escolha
Frutas vermelhas como blueberries e framboesas, se possível, mas não necessário
2 pacotinhos de gelatina incolor
2 colheres de sopa de mel
Hortelã bem picadinha
Açúcar

Preparo:

Faça um coulis* de frutas vermelhas, adoce, coe e misture a um pacotinho de gelatina dissolvido em 1/3 de copo de água. Faça na forma escolhida uma camada de mais ou menos 1 cm de altura e leve ao freezer para endurecer.
Numa vasinha misture as frutas bem picadinhas, o mel, açúcar, e o outro pacotinho de gelatina dissolvido em um copo de água.
Retire a vasilha do freezer e coloque a mistura de frutas por cima daquela primeira camada. Leve gelar novamente.
Para desenformar corretamente, coloque a forma alguns minutos sobre vapor de água.


* coulis: frutas batidas no liquidificador sem água.

domingo, 18 de outubro de 2009

Melancia

Lá fora as cigarras não param de cantar, dia e noite, batem nos vidros pedindo para entrar. São educadas as cigarras.
Ao entardecer, muitas aleluias entram pela casa sem nenhum convite. Caras de pau as aleluias.
O calor é intenso e o sol é forte.
Então, portas e janelas se abrem para entrar um pouco de frescor. Ilusão!
Chuvas fortes e tempestades de vento.
Na correria, portas e janelas se fecham para deixar lá fora a água e as folhas se soltam das árvores.
E os relógios foram adiantados em uma hora nesta noite.
O calendário das estações que me perdoe, mas o verão já chegou e promete!
Para refrescar, fiz uma salada deliciosa de melancia e queijo de cabra:
A melancia arrebenta na boca soltando todo seu caldo doce num primeiro momento.
Logo a seguir vem o sabor intenso do queijo de cabra e finalmente o sal das azeitonas e o crocante das cebolas. O sal negro entra na receita para lembrar o contraste da fruta e seus caroços.
Inusitado, refrescante e delicioso!


Vi esta receita em um programa de culinária na TV.
Alguém aí se lembra em qual programa?


Salada de melancia e queijo de cabra

4 pessoas




¼ de melancia picada em cubos
200 g de queijo de cabra picado em cubos
2 colheres de sopa de azeitonas pretas sem caroço picadas
½ cebola em rodelas
Azeite
Suco de limão
Sal negro

Junte todos os ingredientes e tempere.
Sirva bem gelada.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Salut Tradition!

Todas as vezes que entro em uma boa boulangerie em Paris, fico na fila, claro e reparo no orgulho com que os parisienses pedem uma baguette Tradition: Longa fermentação,
casca crocante e aroma intenso, começa no pão a preocupação em manter vivas as tradições.
Culinária francesa tradicional x Macdo: uma briga que os franceses levam muito à sério.
Em São Paulo fui conhecer o Restaurant L´amitié do chefe/proprietário Yann Corderon.
Em um ambiente bistrô chique contemporâneo o chefe apostou nesta briga e está do lado da tradição.
Em um cardápio em couro elegante encontrei uma terrine de Campagne com sua deliciosa galantine preservada e envolta em massa de brioche. Ví Les rognons de Veau, Chateaubriand au Foie Gras, Coq au vin. E escolhi para experimentar La truite beurre blanc: macia, saborosa com batatas chateau sauté no ponto certo.
Simplicidade levada muito a sério.
As sobremesas lembram livros de receitas antigos cheios de rabiscos e manchas de gordura de tanto serem usados: Les Mille Feuilles, Les Profiteroles. Pedi a primeira e não me arrependi, massa crocante e creme suave.
Todos estes pratos são ícones da culinária francesa. A aposta é séria e espero que dê certo.
Falta experimentar o coq au vin, minha paixão! Terei que voltar lá.
Bienvenue tradition!



L´Amitié Restaurant
Rua Manoel Guedes, 233
Fone: (11) 3078-5919

domingo, 6 de setembro de 2009

Minha semana com mais poesia.

Na quarta feira, dia 2 de setembro, lendo o Estadão, surpreendeu-me o título de uma matéria:
“De cena prosaica a pura poesia, pássaros no fio viram música”
Em uma foto com aves empoleiradas em fios de luz, tirada pelo fotógrafo Paulo Pinto, o músico Jarbas Agnelli viu notas musicais em uma partitura e transformou aquela imagem em música.
Encantou-me a foto, a matéria, a idéia e a música.
Minha semana se transformou depois destes minutos de surpreendente poesia.
No domingo resolvi fazer uma comida gostosa: pernil de cordeiro com molho de conhaque e tangerina para comer com deliciosas ervilhas frescas que havia comprado.
O almoço foi delicioso! Porém, ao final, deparei-me com a cozinha para arrumar e muita louça para lavar. Ainda não vi a beleza e a poesia que Caetano Veloso proclamou ver numa pia cheia de louça, água e sabão! Será que ainda chego lá?




Pernil de cordeiro com molho de tangerina e conhaque



Ingredientes:


1 pernil de cordeiro de 1 ½ kl aproximadamente
6 dentes de alho
Alecrim fresco
Sal e pimenta do reino
200 g de bacon em fatias
1 xícara de suco de tangerina
½ xícara de conhaque
1 xícara de caldo de carne
3 colheres de sopa de manteiga

Preparo:

Na véspera, fure a carne e coloque os dentes de alho. Tempere com sal e pimenta do reino. Coloque dois ramos de alecrim. Cubra e deixe na geladeira.
Em uma assadeira média faça uma camada de alecrim e coloque a carne por cima.
Espalhe alguns pedaços de manteiga sobre a carne. Cubra com as fatias de bacon. Feche com papel alumínio e leve ao forno em 180º. Numa panela pequena coloque metade do caldo de carne para reduzir com o conhaque. Assim que o caldo tiver diminuído pela metade, retire do fogo. Vá regando a carne com a outra metade do caldo da carne e o suco de tangerina por aproximadamente 2 horas. Retire o papel alumínio, o bacon e aumente o forno para 250º. Deixe dourar.
Deglasse a assadeira com o caldo reduzido e coe o molho.
Sirva com arroz refogado com ervilhas frescas e abobrinhas grelhadas. Acompanhe com geléia de pimenta.

domingo, 16 de agosto de 2009

Quanto vale um improviso:

Vejam só o que me aconteceu sábado passado:
Como entrada de um jantar que eu iria preparar para pessoas muito especiais
planejei foie gras com shutney de figos e vinho do Porto. Como não é época de figos, liguei para meu fornecedor de frutas e encomendei 4 caixinhas. Fiquei tranqüila.
Na véspera, ele me ligou dizendo que todo o carregamento de figos havia se perdido na estrada devido ao calor. “Eles explodiram!” Falou-me indignado.
Fiquei pensando em substituir o figo por maças ou peras. Manga neste caso nem pensar!
Muito oriental e perfumada para o foie.
Fui para o Pão de Açúcar: O calor estava realmente forte e assim que olhei para o setor de frutas me deparei com uma banca de lindas e graúdas cerejas frescas! Perdi a noção de onde eu estava! Calor de 32 graus em agosto e cerejas frescas? Sul da França em frente ao mar turquesa? Flórida? Roma escaldante com perfume de laranjas?
Fiz o chutney com as cerejas. Ficou maravilhoso e com uma lufada morna do verão europeu.


Quem comeu se deliciou.
No dia seguinte guardei todos os meus casacos.
O verão já chegou por aqui.

Fiz uma calda maravilhosa com as cerejas que sobraram:

Calda de cerejas frescas:



1 Kg de cerejas
2 xícaras de água
2 xícaras de açúcar cristal

Cortei as cerejas pela metade e tirei os caroços com a mão para não feri-las muito.
Coloquei a água e açúcar em uma panelinha e deixei que levantasse fervura.
Deixei fervendo por 20 minutos sempre coando as impurezas do açúcar.
Adicionei as cerejas com carinho. Permiti que fervessem somente 4 minutos.
Desliguei o fogo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Bis

Eu sabia que haveria uma ótima razão para eu voltar a escrever!
Alguns dias atrás, estando em São Paulo fui com minhas sobrinhas jantar no América do Shopping Iguatemi.
O Iguatemi está presente em minha vida desde criança.
Ainda tenho a sensação de estar em casa por lá, mesmo agora que ele está todo sofisticado com lojas internacionais e tudo o mais.
Quando estávamos indo embora minha sobrinha V. viu nas Lojas Americanas caixas e mais caixas de Bis Avelã para vender.
Nossa tia, tem Bis de avelã!
Que é isto? Perguntei.
É lançamento! Disseram-me.
Bom, vamos correr e comprar, então. Falei.
Lá mesmo abrimos uma caixa e experimentamos. Divino!
Quantos comi? Não revelo!
Quando criança, encontrei na sala de minha casa uma bonbonnière cheia de bombons importados. Não resisti e comi todos! E aí então o arrependimento veio: Como iria confessar a gulodice! Corri para meu quarto e peguei todas as moedas que possuía. Não era muito não. Não sabia o que fazer! O cerco estava se fechando e a tarde caindo: Eles iriam chegar em casa e saber de tudo. Aí veio a idéia genial: Fui à padaria da esquina e comprei uma caixinha de Bis. Voltei para casa e com calma cortei os chocolates em quadradinhos que coubessem corretamente dentro das forminhas dos bonbons. Arrumei a bonbonnière direitinho e fiquei bem quieta.
Até hoje não recebi a bronca! O Bis me salvou!


terça-feira, 14 de abril de 2009

Menu degustação

Pelo telefone recebi as indicações: desce a Angélica. Assim que passar a Academia Runner pega a primeira à direita e depois, novamente, primeira à direita. E foi desta forma que fiz o trajeto.
Ao chegar, reparei no canarinho da gaiola pendurada na árvore em frente ao açougue Nova Grife. Ele cantava e cantava sem se incomodar com o fato de que estava em pleno centro de São Paulo. A rua até que estava tranqüila para uma quinta feira no meio da tarde.
E o que eu estava fazendo na Barão de Tatuí no meio da tarde de uma quinta feira?
Fui almoçar no restaurante Così, que foi inaugurado há poucos dias com uma proposta diferente:
Num balcão em frente à cozinha um menu degustação é preparado com ingredientes frescos do mercado, com um preço fixo e convidativo.
E porque escolheram logo a Barão de Tatuí para abrir um restaurante? E não os Jardins ou Itaim, sei lá. Fiquei intrigada.
Ao longo da refeição o chefe, Renato Carioni, simpático e acessível, me explicava cada prato:
Polenta com Gorgonzola dolce, damascos e pistaches
Timbale de camarão e vôngole ao molho de limão
Ovo mollet com creme de lentilhas e cogumelos
Robalo com picci, polvo, azeitonas e molho de açafrão
E como sobremesa:
Um levíssimo Tiramisú de frutas vermelhas.
Estava tudo muito bom. Talvez o ovo tenha sido demais para mim, mas estava saboroso e no ponto.
A escolha tinha se revelado acertada.
Na saída, quando entrei no carro e olhei para frente dei de cara com uma igreja no fim da rua, com jeito de Florença, Milão ou Bolonha. A rua tem um toque de Itália numa tarde de sol de outono. Descobri, portanto, a razão para tal endereço.
Pode ir. Desce a Angélica. Passa a Academia Runner, vira a primeira à direita.
E então, a próxima à direita. Não tem erro.
Così
Rua Barão de Tatuí,302 Sta Cecília
Fone 11 3826 5088

domingo, 22 de março de 2009

Limão cravo.


Vejam na foto que delícia de presente estava me esperando em casa! Minha amiga B me mandou uma sacola de limões cravo, para uns, china, para outros. Para mim este é o melhor limão que temos por aqui. E esta paixão vem da infância.
Todos os domingos íamos para o sítio de meus avós que ficava a uns 30 quilômetros de São Paulo. Ao chegar uma porteira de madeira branca separava o mundo de fora daquele local encantado para mim. Não era automática, não, e o melhor era abri-la e com um impulso se pendurar nela e já sair correndo na frente do carro para logo chegar.
Na cozinha, minha avó que já estava preparando delícias para o almoço largava tudo para os beijos, afagos e abraços quentes e apertados. Minha primeira reação era sempre ver o que havia borbulhando no fogão. Se havia ragú de carne, então a massa já estaria secando ao sol, sobre grandes panos brancos com barrado de crochet, especialmente lavados e quarados para isto.
Eu logo era chamada a ajudar: Filha vá apanhar limão cravo para temperar a carne.
Ao sair da cozinha eu tinha um itinerário: Primeiro, passar pelo poço d água. Ele ficava sob um caramanchão de glicíneas, rodeado por um canteiro de miosótis, no topo de alguns degraus que eu subia solenemente, como se estivesse indo a um altar e lá eu depositava meus sonhos da semana ou do mês, ou do ano.
Depois, se fosse verão, um mergulho na piscina. Se fosse inverno, inventava outra coisa.
Em março, passava, sempre, pelo pé de caqui. Comia uma fruta, deliciosa. Se havia amoras, minhas mãos iriam ficar manchadas de vermelho por uns bons dias. Se havia nêsperas, mais uma parada. Na horta, apanhava, sempre, uma cenoura.
Esta chácara era irrigada por um sistema de caneletas de água fantástico, criação do meu avô, acho eu. A água do lago era bombeada por uma roda d’água de madeira imensa, que fazia um barulho delicioso, toc, toc, toc, para estes canais que se espalhavam por toda a propriedade. Mesmo assim, na horta, não faltava a banheira branca velha no meio das hortaliças, para lavar os pés de alface e as cenouras, imagino. Certa vez, alguém trouxe um jacarezinho de Mato Grosso e o colocou na banheira. Ele ficou lá por um bom tempo, até crescer demais e ser transferido para o lago e virar o terror dos pescadores invasores. Estávamos nos anos setenta, não havia patrulhamento ecológico nenhum, bom salientar.
Depois de todas estas paradas eu já estava bem atrasada, corria até o limoeiro, colocava alguns limões na sacola e voava para a cozinha. Oh! filha só isto? Minha avó reclamava. Isto só dá para a limonada! Volte lá e apanhe mais. Ordenava já apressada.
Bom, ia começar tudo de novo: um sonho, um mergulho, um caquí...

terça-feira, 3 de março de 2009

Patagônia

Só quando todas as risadas cessaram, quando todas as deliciosas conversas acabaram, quando as luzes do hotel se apagaram e quando a quietude da noite fez-se presente foi que percebi onde realmente estava.
Eu estava em um vale rodeado de montanhas bastante rochosas à beira de um lago de águas profundas e cristalinas. O vento da noite fazia movimentar as Coihue, árvores de 400 anos, majestosas e dignas. Só se ouvia o canto dos Tero, pássaros de médio porte e bico bem comprido. Este canto ecoava pelo vale do Arelauquen sempre solitário e de alguma forma ancestral. No parque Nacional Nahuel Huapi, na Patagônia Argentina a noite era clara, o clima era fresco para fevereiro e todas as estrelas existentes no Hemisfério Sul finalizavam este cenário de forma surpreendente. Não há como não se admirar: estas árvores ficarão lá por muito tempo ainda, castigadas pela neve, açoitadas pelo vento, refrescadas pela chuva tendo somente estas mesmas estrelas como companhia, já que nós ...
Durante o dia surpreendi-me com canteiros de alfazema que perfumavam o ar, roseiras de cores fortes como pinceladas de tinta a óleo numa tela branca e arbustos de rosa mosqueta espalhados a esmo, mas com certa arte.
Junto com ótimos amigos estive em vários restaurantes mas em nenhum surpreendi-me tanto como no Chop-Chop onde comi a melhor empanada! Massa folhada crocante, queijo que derrete ou carne deliciosamente temperada. Local simpático e despretensioso onde a comida feita pelo próprio dono reafirma a verdadeira vocação de um restaurante: restaurar, alimentar.



Ótimos restaurantes na região:
Chop Chop Av 7 lagos, 365 - Villa La Angostura
Las Balsas – Bahia Las Balsas s/ numero - Villa La Angostura
El Casco Art Hotel – Av Bustillo Km 11,5 - Bariloche









sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Quelle chance!

Três meses atrás quando resolvi que depois de ficar alguns dias em Salamanca eu iria para Paris fazer um curso na Ecole Lenôtre, eu decidi comprar um ingresso para ver a première da ópera Mme Butterfly na Ópera de la Bastille no dia 29 de Janeiro. Qual não foi minha surpresa quando no dia da apresentação recebi um telefonema, já em Paris, para me informar que o espetáculo tinha sido anulado por razão da greve geral que acontecia no país. Vale dizer que havia um milhão de pessoas, sério, nas imediações da Place de La Bastille empunhando milhares de cartazes com palavras de ordem contra a política econômica do Sarkozy, uma multidão marchando e gritando. Longe de mim não ser solidária às reivindicações dos franceses mas, cá entre nós, sorte que estava bem longe de lá.
Bem e aí? Resolvi que isto não iria estragar minha noite! Fui jantar no Michel Rostang.
Assim que a porta do restaurante se fechou atrás de mim e uma gentil funcionária me ajudava a livrar-me do “casacoluvascachecol”, já pude sentir o forte aroma de trufas que inundava todo o ambiente. Que delícia! Estava no lugar certo. A ambientação é muito elegante com coleção de figuras de Robj, vasos Gallé. Fui encaminhada para uma mesa de canto na sala que fica em frente à cozinha envidraçada. De lá eu acompanharia o serviço da noite. A cesta de trufas foi-me apresentada e o sommelier, pacientemente, ajudou-me a escolher a melhor meia garrafa para o Tagliarini aux truffes et escalope de fois gras de canard poêlée que escolhi: um branco Chassagne-Montrachet 2004, Domaine Bachelet-Ramonet.
Na mesa à minha esquerda um escritor quase famoso, cabelos pretos encaracolados e blazer azul marinho displicentemente jogado sobre uma camisa branca como só os franceses sabem fazer, era o centro das atenções de outras cinco pessoas: uma ruiva de cabelos curtos e gestos largos, uma loira delicada de fala baixa e três homens com cara que gostariam de estar em qualquer lugar, menos lá. Tudo que o escritor falava era motivo de exclamações e risos e qualquer gesto seu razão para espanto. Pura bajulação!
À minha direita um senhor inglês de terno tipo “sou importante” tentava, em vão, entre um gole e outro de uma taça de Champagne, se concentrar em um relatório enfadonho qualquer. Já na mesa bem à minha frente um grupo de quatro pessoas, estes sim, se divertindo, pediram um Canard à La presse.
A atendente oriental responsável por aquela sala flutuava pelo ambiente incansavelmente, mimando a todos com deliciosos amuse bouche: bolinhos de pé de porco com chutney de figos, Ravióli frito de lagostim, mini ramequim de pato com morriles...
Meu prato chegou: esqueçam tudo que já comi! E só o que posso dizer sobre a perfeição de meu prato.
Em determinado momento uma euforia tomou conta dos atendentes, era como se aspas tivessem sido colocadas no ambiente: todos se juntaram para servir o canard à la presse para os felizardos à minha frente. A sala toda parou para presenciar aquele momento.
Mais tarde, tive que dispensar a sobremesa, mas com o café, zilhões de docinhos perfeitos foram colocados à minha frente. Pedi o taxi. Na saída recebi um mundo de gentilezas e junto com um “quando estiver na cidade lembre-se de nós” foi-me entregue um brioche de frutas vermelhas para comer no café da manhã do dia seguinte.
O frio era intenso e a noite era clara. O movimento na rua já era pouco, o carro como que deslizava pelas ruas. Para minha surpresa tocava no rádio do taxi jazz de qualidade. Vi no dial: rádio África 1.
Quando o carro passou pela ponte Alexandre III vi a lua quase cheia no céu e pensei:
Perdi um espetáculo maravilho, é certo! Mas o espetáculo que vi, presenciei e do qual participei foi sem sombra de dúvidas de primeira qualidade!



Michel Rostang
20, Rue Rannequin fone 1 47634077
www.michelrostang.com

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

¿Holla que tal?

Estou em Salamanca, Espanha. O inverno está rigoroso, não passa de 8 graus positivos. O vento corta como faca. No meio da tarde, às vezes, o sol aparece. Por pouco tempo.
A cidade é muito antiga, circundada por muralha e todas as ruas principais convergem para a Plaza Mayor, lidíssima! Os costumes são bem provincianos: às 13 horas tudo fecha e todos fazem a siesta. Na rua ficam somente os estudantes que saem da Universidade e os turistas desavisados que ficam perambulando pelas ruas vazias. Em torno das 18 horas as ruas estão cheias de novo.
A culinária daqui é sólida como são os invernos: muita carne de porco, ovos fritos e chorizo.
Os jamones ibéricos de Alberca são fantásticos!
Há paletas e jamones Pata Negra que são alimentados somente com Bellotas, frutas da região. Sua carne é macia e perfumada. Estive na loja de um produtor Hermanos Hoyos, San Justo, 26, Salamanca. Produzem jamóm desde 1908.
Comprei um pouco de jamón Ibérico Bellota Reserva para comer com pão que tinha acabado de ser assado na padaria quase ao lado da loja.
Agora, aguardo o final da siesta para voltar para a rua.




sábado, 3 de janeiro de 2009

Que bom!

No dia primeiro de janeiro de 2009 escolhi fazer valer meu texto anterior:
Escolhi escutar o CD do Roberto Carlos com Caetano Veloso cantando Tom Jobim.
Alguém já havia imaginado escutar um CD desta dupla? No mínimo original!
Eu havia deixado Roberto Carlos lá longe, guardado em arquivos da minha infância, já que na adolescência seria um crime inafiançável escutá-lo. E depois, esqueci dele.
Fiquei curiosa e comprei o tal CD. Gostei. Foi uma delícia escutá-lo enquanto preparava meu almoço: Lombo de Gadus Murrhua fresco, com lentilhas e paio. Está ou não está valendo?
O peixe é delicioso, se solta em moedas como seu equivalente salgado e tem o sabor característico, porém mais suave, elegante. Combinou muito bem com as lentilhas e o paio. Foi só assá-lo, temperado com ervas e vinho branco seco e pouco azeite. Para que as lentilhas ficassem no ponto, foi só cozinha-las em água, sal, uma cebola inteira e dois dentes de alho. O paio foi fatiado, dourado e acrescentado no final do cozimento.
Esta delícia foi acompanhada por uma garrafa de Tremendus, Clarete da região da Rioja, Espanha.
Vale lembrar que eu estava em excelente companhia e o dia estava deliciosamente fresco para esta época do ano.
Parece que 2009 começou bem!

Obs: Ainda estou escrevendo da melhor forma possível na grafia que já ficou velha.
Vou providenciar urgentemente um manual da nova grafia. Desculpem-me por possíveis erros!