domingo, 22 de março de 2009

Limão cravo.


Vejam na foto que delícia de presente estava me esperando em casa! Minha amiga B me mandou uma sacola de limões cravo, para uns, china, para outros. Para mim este é o melhor limão que temos por aqui. E esta paixão vem da infância.
Todos os domingos íamos para o sítio de meus avós que ficava a uns 30 quilômetros de São Paulo. Ao chegar uma porteira de madeira branca separava o mundo de fora daquele local encantado para mim. Não era automática, não, e o melhor era abri-la e com um impulso se pendurar nela e já sair correndo na frente do carro para logo chegar.
Na cozinha, minha avó que já estava preparando delícias para o almoço largava tudo para os beijos, afagos e abraços quentes e apertados. Minha primeira reação era sempre ver o que havia borbulhando no fogão. Se havia ragú de carne, então a massa já estaria secando ao sol, sobre grandes panos brancos com barrado de crochet, especialmente lavados e quarados para isto.
Eu logo era chamada a ajudar: Filha vá apanhar limão cravo para temperar a carne.
Ao sair da cozinha eu tinha um itinerário: Primeiro, passar pelo poço d água. Ele ficava sob um caramanchão de glicíneas, rodeado por um canteiro de miosótis, no topo de alguns degraus que eu subia solenemente, como se estivesse indo a um altar e lá eu depositava meus sonhos da semana ou do mês, ou do ano.
Depois, se fosse verão, um mergulho na piscina. Se fosse inverno, inventava outra coisa.
Em março, passava, sempre, pelo pé de caqui. Comia uma fruta, deliciosa. Se havia amoras, minhas mãos iriam ficar manchadas de vermelho por uns bons dias. Se havia nêsperas, mais uma parada. Na horta, apanhava, sempre, uma cenoura.
Esta chácara era irrigada por um sistema de caneletas de água fantástico, criação do meu avô, acho eu. A água do lago era bombeada por uma roda d’água de madeira imensa, que fazia um barulho delicioso, toc, toc, toc, para estes canais que se espalhavam por toda a propriedade. Mesmo assim, na horta, não faltava a banheira branca velha no meio das hortaliças, para lavar os pés de alface e as cenouras, imagino. Certa vez, alguém trouxe um jacarezinho de Mato Grosso e o colocou na banheira. Ele ficou lá por um bom tempo, até crescer demais e ser transferido para o lago e virar o terror dos pescadores invasores. Estávamos nos anos setenta, não havia patrulhamento ecológico nenhum, bom salientar.
Depois de todas estas paradas eu já estava bem atrasada, corria até o limoeiro, colocava alguns limões na sacola e voava para a cozinha. Oh! filha só isto? Minha avó reclamava. Isto só dá para a limonada! Volte lá e apanhe mais. Ordenava já apressada.
Bom, ia começar tudo de novo: um sonho, um mergulho, um caquí...

terça-feira, 3 de março de 2009

Patagônia

Só quando todas as risadas cessaram, quando todas as deliciosas conversas acabaram, quando as luzes do hotel se apagaram e quando a quietude da noite fez-se presente foi que percebi onde realmente estava.
Eu estava em um vale rodeado de montanhas bastante rochosas à beira de um lago de águas profundas e cristalinas. O vento da noite fazia movimentar as Coihue, árvores de 400 anos, majestosas e dignas. Só se ouvia o canto dos Tero, pássaros de médio porte e bico bem comprido. Este canto ecoava pelo vale do Arelauquen sempre solitário e de alguma forma ancestral. No parque Nacional Nahuel Huapi, na Patagônia Argentina a noite era clara, o clima era fresco para fevereiro e todas as estrelas existentes no Hemisfério Sul finalizavam este cenário de forma surpreendente. Não há como não se admirar: estas árvores ficarão lá por muito tempo ainda, castigadas pela neve, açoitadas pelo vento, refrescadas pela chuva tendo somente estas mesmas estrelas como companhia, já que nós ...
Durante o dia surpreendi-me com canteiros de alfazema que perfumavam o ar, roseiras de cores fortes como pinceladas de tinta a óleo numa tela branca e arbustos de rosa mosqueta espalhados a esmo, mas com certa arte.
Junto com ótimos amigos estive em vários restaurantes mas em nenhum surpreendi-me tanto como no Chop-Chop onde comi a melhor empanada! Massa folhada crocante, queijo que derrete ou carne deliciosamente temperada. Local simpático e despretensioso onde a comida feita pelo próprio dono reafirma a verdadeira vocação de um restaurante: restaurar, alimentar.



Ótimos restaurantes na região:
Chop Chop Av 7 lagos, 365 - Villa La Angostura
Las Balsas – Bahia Las Balsas s/ numero - Villa La Angostura
El Casco Art Hotel – Av Bustillo Km 11,5 - Bariloche